terça-feira, 15 de setembro de 2009

O poder da verdade

*Texto escrito em 2007, revisado e publicado agora.

Até que ponto nós podemos saber se o que vemos na televi- são é verdade? Você acredita em tudo? Como podemos ter certeza? Essas são questões sutis que geralmente os tele- spectadores comuns não pres- tam muita atenção. O envol- vimento ficcional das pessoas pelas imagens é uma das cau- sas que podem explicar essa interessante sensação de verdade. A ficção mexe com os sonhos despertados pela identificação com personagens e situações. O desejo de reconhecimento e a sensação de que “o que esta sendo mostrando na TV é verdade”, ou que é o correto, ou que é o melhor; transforma a televisão numa fábrica de sonhos que condicionam for- mas comportamentais globais.

Tudo isso porque ela “diz a verdade”. As notícias, as campanhas políticas, os publicitários, dependem em grande parte dessa con- fiança. Se o público não acredita que seu produto é verdadeiramente bom ele não vende. Se a notícia é falsa, o noticiário perde sua credibilidade. Se não conseguir a confiança (ou a compra) do eleitor, o político não se elege. Mas, num mundo onde os meios de comu- nicação esbanjam velocidade em circular muita informação, as pes- soas, por vezes, perdem o referencial e esbarram na questão: em quem confiar? Ou: quem está dizendo a verdade?

A falta de um ponto de referencia fixo provoca uma profunda agonia no ser humano: a incerteza. Para sair da dúvida e de suas conseqüências buscamos a verdade. Às vezes podemos encontrá-la (sair da incerteza) na comunicação interpessoal, com amigos e/ou com as pessoas que vivemos. Quando pensamos que a encontramos, ela é valorizada mais que tudo. Acreditar que vamos encontrar a verdade gera esperança. Quando somos convencidos que algo é verdade ficamos submissos, obedecemos, aceitamos, concordamos, votamos, elegemos, compramos. Basta refletir a respeito para perceber o poder que a verdade tem sobre nós.

A esperança de encontra a verdade gera artifícios retóricos que ajudam a convencer. Estudos de comunicação, desde Aristóteles, nos mos- tram o quanto esse aspecto é explorado. Com ouvintes esperançosos de serem atendidas as suas expectativas, torna-se mais fácil condicionar-los a acreditar na verdade de quem fala, pois o interesse e a necessidade já estão condicionando suas mentes. A esperança de um povo sofrido é usada nas promessas políticas, a esperança de um dia poder comprar um fogão para a casa pode ser satisfeita com várias prestações, acreditar que o time do coração é o melhor (verdade ou não) faz valer apena comprar a camisa... Nós somos sutilmente con- dicionados.

Em meio às incertezas, as verdades da ficção acabam sendo va- lorizas. A necessidade de preencher as deficiências da existência humana se transforma em arte, numa eterna busca. As verdades da ficção podem ser vistas nas modas copiadas das novelas, nos ritos de uma tribo urbana, nas grandes produções... Podem ser vistas também na distorção de fatos de notícias importantes do nosso dia a dia para atender a interesses imersos. Assim, a ficção pode acabar cons- truindo verdades: algumas verdades que podem ser mentiras dis- farçadas.

Quem tem a verdade ao seu lado, tem a preferência do consumidor e, para simplificar (principalmente entre os políticos), poder. A retórica das verdades que mantém o poder é um elo de conflitos, acordos, armações e picaretagens de todo o tipo que possam ser usadas para manipulação das verdades que vão para o ar. As rádios nazistas, os jornais franceses do séc. XVII, a edição do debate entre Lula e Collor em 1989, as malas de dinheiro do mensalão, as armas químicas do Iraque, as CPI’s onde parlamentares julgam parlamentares com a- cordos por trás... Exemplos não faltam para mostrar a construção de verdades.

Com essas questões em mente, devemos prestar bastante atenção nas sutilezas ao tomar uma decisão a partir do que vem pela mídia. Isso também vale para as decisões como as de compra, mas, o mais importante, é ter isso em mente na hora de votar. Essa decisão, e as verdades “verdadeiras” que a envolvem, reflete diretamente em seu salário, sua segurança, sua moradia, enfim, na sua qualidade de vida. Por isso cobre o que foi prometido nas eleições, cobre as verdades prometidas. Se essa verdade for uma mentira disfarçada, indigne-se. Não deixe que a realidade torne a busca dos significados uma verdade irrelevante. As pessoas têm que ter consciência de que, por trás do que a mídia fala, existem conflitos de interesses. A verdade tem o poder de decidir os vencedores.

4 comentários:

  1. Vc não falou o que é "verdade". Talvez tentar conceituá-la deixaria seu texto melhor. Não me leve a mal, mas apesar do tema ser bom para argumentar, é bem clichê. Os serus argumentos são clichês. E a palavra "verdade" aparece tantas vezes, que no fim eu estava prestando menos atenção ao sentido do texto do que tendo expectativa de quando a palavra apareceria de novo.

    E sempre revise "mil vezes" tudo o que for publicar, reparei em erros de digitação e concordância nominal (aprenda a conjugar o plural).

    No mais, continue melhorando seu blog.
    :***

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  2. Vc tb podia revisar seus comentários... encontrei alguns erros de ortografia, concordência e digitação... :P

    Bjo!!!

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